Ele apareceu há pouco mais de quatro meses e logo conquistou a simpatia de grande parte da vizinhança, na Travessa Santa Leocádia, em Copacabana, na Zona Sul do Rio.
Mas, agora que ganhou corpo e canta a plenos pulmões de madrugada, o galo, recentemente batizado de “Jorge”, está colhendo antipatias.
Para não ser recolhido e levado para o Centro de Controle de Zoonoses da prefeitura, "Jorge" vai ter de cantar em outro terreiro. Ou seja, a ave será levada para um sítio, no interior do estado.
A enfermeira Marilene Procópio, que pretende levar “Jorge” para seu sítio, conta que ninguém sabe exatamente como ele apareceu na rua. Há quem diga que ele pode ser sido abandonado, ainda pintinho, por alguma criança. Mas há também quem defenda que ele teria vindo de uma comunidade do Morro dos Cabritos. “Ele não suja as ruas, como os cachorros. Ao contrário, é até uma segurança para quem mora aqui. Vou levar “Jorge” para meu sítio, onde ele vai poder cantar de galo, e viver rodeado de galinhas. Tenho medo que alguém faça maldades com ele por aqui”, disse Marilene. Segundo a doméstica Nilza Mendes, que há mais de 30 anos trabalha numa casa na travessa, alguns poucos vizinhos implicam com o galo que começa a cantar por volta das 4h30, diariamente. Ela conta a dona da casa onde trabalha chegou a receber uma carta anônima com reclamações e dizendo que providências seriam tomadas para recolher a ave. “Acharam que minha patroa era dona do galo. Mas ela passa mais tempo viajando do que em casa. Assim como a maioria dos moradores, ela alimenta o bichinho. Ele não incomoda ninguém. Mas a gente sabe que tem morador que quer se livrar do galo, que vive reclamando”, disse Nilza, sem revelar quem são esses moradores.
Outros nomes
Moradora da rua há três meses, Roseli Ferreira, contou que ficou encantada com o galo, que ela prefere chamar de “Pavarotti”. Diz que desde que se mudou, aboliu o despertador. Ela diz que ele canta religiosamente às 4h30, 5h e 6h. “É muito mais prazeroso acordar com o canto do galo. Ele é muito pontual. Desde que passei a me orientar pelo horário dele, nunca mais perdi a hora dos meus remédios. É um privilégio, em plena Copacabana, acordar com os sons da natureza, dá um ar bucólico à rua. Quando quero que ele pare de cantar, dou comida para ele mais cedo”, disse Roseli, que passou incorporar às compras de mês uma quantidade de milho especialmente para o galo. Nilza conta que assim que apareceu na rua, o então pintinho começou a ser chamado de “Coxinha”. Conforme foi crescendo, as crianças passaram a chamá-lo de “Coxão”, agora, grande parte da vizinhança se refere à ave como “Jorge”. Outra defensora de “Jorge”, Maria das Graças Prado afirma que a ave é dócil, come na mão dos moradores e que não perturba ninguém. Esta semana ela assinou um abaixo-assinado pela permanência do galo na rua. Ela diz que se sente muito mais incomodada quando hóspedes de um albergue chegam de madrugada falando alto e batendo portas. “A falta de respeito dessas pessoas é muito pior que o canto do galo. Ouvir o galo cantar faz a gente lembrar de coisas boas e simples da roça. A gente até esquece que vive num bairro cheio de mendigos, violência e tiroteios”, disse Maria das Graças.
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